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A ausência de uma trajetória profissional no campo da educação e o medo da judicialização da política educacional no Estado de São Paulo marcam a indicação do novo secretário

Quem é o novo secretário de Educação do Estado de São Paulo? Como foi escolhido? Quais são seus principais desafios na pasta?

O ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, de 70 anos, se apresentou com um discurso conciliador, após embates recentes do então Secretário de Educação, Hermann Voorwald, que acabou destituído, em dezembro passado, do cargo.

Após profundo desgaste sofrido pelo Governo Alckmin na área educacional, resultado da longa greve dos professores e do movimento estudantil que ocupou mais de 200 escolas em todo estado São Paulo, alguns especialistas dizem que a indicação do novo secretário pode ser vista como “adequada” após um período de crise. Outros criticam.

Apesar de não possuir uma trajetória profissional no campo educacional e sim no Poder Judiciário, José Renato Nalini, é visto como um homem que possui forte influência no Órgão e pode usá-la em questões polêmicas.

Um dos articuladores da indicação de José Renato Nalini ao cargo de Secretário Estadual da Educação é o Secretário Municipal de Educação da cidade de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB). Este, por sua vez, afirmou em entrevista ao jornal Estado de São Paulo que José Renato Nalini “tem um espírito conciliador, é um homem de muito diálogo, que tem uma maturidade muito grande para o exercício desse cargo”, afirmou.

Por outro lado, a presidente da APEOESP, principal sindicato de professores do Estado de São Paulo, Maria Isabel Noronha, popularmente conhecida como “Bebel”, criticou a indicação, argumentando que não adianta se mostrar aberto ao diálogo, de fato existe uma necessidade de negociação com a categoria dos professores, dos funcionários e os estudantes. Segundo Bebel, “de nada adianta nos receber, ouvir o que temos a dizer e nos ignorar como foi feito até agora”.

Apesar de agradar um certo número de especialistas e gestores pró-governo, a educação é um dos setores mais críticos do Governo Alckmin e a falta de uma carreira profissional na área da educação e o perfil voltado para o Poder Judiciário gerou grande desconfiança de acadêmicos, sindicalistas, movimentos sociais e estudantis por parecer muito mais uma articulação política do governador que, no fim do ano passado, sofreu duras derrotas no Poder Judiciário do que reais intenções de melhorar ou mudar a linha política da gestão sobre o setor educacional no estado de São Paulo – que é vista como autoritária.

Angela Meyer, presidente da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES), sintetiza esse sentimento de desconfiança e dúvidas sobre possibilidade de diálogo do novo Secretário de Educação.

“Todas as grandes questões da educação no ano passado, a greve e a reorganização, foram decididas após derrotas do governo no Judiciário. É preocupante a possibilidade de que Nalini possa, com a sua influência blindar a Secretaria da Educação desse tipo de decisão. (…) Não sabemos o que ele pensa sobre a reorganização, quais são os projetos para a educação pública”.

Para o professor Ocimar Alavarse, da Universidade de São Paulo (USP), os principais desafios do novo secretário serão assumir a pasta com projetos inconclusos e impopulares como a reorganização escolar, o plano de carreira dos professores e a mudança de currículo do ensino médio.

Agregado a isso, o novo secretário deve encontrar grande resistência por não ser um profissional da área da educação. Alavarse salienta que espera “que o governador não esteja optando pela via da judicialização das questões de política educacional, porque estaria aprofundando um cenário de ausência de debate”.