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Depois de intensas articulações, no último domingo, 1º de fevereiro, o deputado Eduardo Cunha (PMDB – RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, em Brasília. A vitória de Cunha foi um sinal de quanto será duro o jogo político no início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.

Ao vencer ainda no primeiro turno da eleição frente a nomes de peso, como do candidato Arlindo Chinaglia, do PT, fica evidenciado como existem diferenças entre o governo e o poder.

Os ares da redemocratização política, que fizeram o Brasil avançar de maneira muito positiva ao longo das duas últimas décadas, culminaram com que, muitas vezes, se perdesse a noção de como é duro e complexo o jogo político nacional.

Apesar de fazer parte do PMDB, partido essencial na base governista, que ajudou a reeleger a presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, Eduardo Cunha vem traçando fortes críticas ao governo e à maneira como este se relaciona com o parlamento. No ano passado, Cunha chegou a liderar um bloco que buscou desestabilizar o governo no Congresso Nacional, atuando em várias frentes, contra os assuntos de interesse do Planalto.

Este cenário contribui para colocar mais “lenha na fogueira” do debate sobre a governabilidade nacional, à medida que os partidos centrais do país não têm proporcionado acordos de caráter mais programático. Na maioria das vezes, ocorrem infindáveis processos de negociação em que a base para os acordos é quase que, somente, a conquista de mais cargos no aparelho estatal.

Nesse sentido, há fortes indícios de que a eleição do deputado, de perfil conservador, dificultará a ação do governo em muitos aspectos, como no caso de aprovação de projetos, visto que o presidente tem o poder de definir a agenda de pautas que serão avaliadas e, realmente, negociadas.

O deputado tem ressaltado ainda que vai lutar pela autonomia e poder de decisão da Câmara em relação ao Executivo que, segundo ele, é muito dependente desse Poder desde a Constituição de 1988. Naturalmente, este discurso remete a um tom protocolar de quem busca mais do que conquistar a independência, mas também de apontar outro caminho para o país.

Estamos defronte de um cenário atual que demonstra claramente a posição delicada em que o governo se encontra e o surgimento de uma nova disputa de poder.

De um lado está Eduardo Cunha, que vai buscar fazer toda a diferença nas decisões do Congresso, e do outro, um governo que prega uma reforma política, apesar de viver tempos difíceis em que sinalizam, inclusive, a perspectiva da redução de gastos e o envolvimento em diversas polêmicas, como a Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção da Petrobrás.

O que vai prevalecer nesse cenário, certamente, não será apenas a consequência de um bom discurso, mas a construção de uma agenda política pactuada que, infelizmente, no momento, está fora de questão.

Edgar Nóbrega, economista e diretor da Nóbrega Desenvolvimento